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Racismo, um século de pura ignorância

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Reprodução/ESPN

Torcedora chamando o goleiro Aranha de macaco

No último mês o assunto voltou a ser capa da maioria dos jornais brasileiros, após torcedores preferirem insultos racistas contra o goleiro santista Aranha, em um jogo entre Grêmio e Santos. O atleta, que teve ótima atuação e contribuiu para que o time vencesse a partida, irritou um grupo de cerca de 10 pessoas, localizadas atrás do gol, que imitaram som de macaco.

Mas, onde estão os direitos humanos que dizem que somos todos iguais? Todos sabemos que vivemos num país em que as pessoas são diferentes e, por estupidez e ignorância cria-se o preconceito. Diariamente procuram justificativas para atos como esses, mas não há justificativa para o injustificável.

O racismo vem sendo discutido a cada episódio desse, mas não está sendo o suficiente, tendo em vista que num prazo de 12 meses, a contar até março de 2014, foram contabilizados 14 casos no esporte brasileiro. Devemos, antes de tudo, parar e analisar gestos do dia a dia que podem levar a mudanças, já que estamos há 126 anos da assinatura da abolição da escravatura e ainda nos deparamos com desigualdades raciais, em um país miscigenado. Aqui 16 milhões de brasileiros se autodeclaram pretos, segundo dados do IBGE de 2011.

[O racismo] Hoje é uma prática disfarçada, já que não se vende mais o negro

Além de preconceituoso o Brasil é um país hipócrita, já que uma pesquisa divulgada pelo site do jornal El país, no último dia 16, aponta que 97% dos entrevistados afirmam não ter preconceito com cor, mas que conhecem alguém que tem. Ou seja, o culpado é sempre o outro.

Segundo o professor de História da União das Faculdades Integradas de Tangará da Serra, Mato Grosso, Sergio José Both em seu artigo: “Racismo e descriminação no meio de todos nós” publicado no site da PUCRS, “no nosso Brasil persiste uma mentalidade enraizada no sistema escravista/colonial. Hoje é uma prática disfarçada, já que não se vende mais o negro, porém se negocia sua identidade imputando-lhe uma carga de inferioridade e discriminação que fere da mesma maneira. Os negros continuam sendo alvo da ignorância, intolerância e covardia”.

Se no Brasil a discriminação racial fosse oficializada, talvez o negro teria se unido à luta contra o fim do racismo, como fizeram para o fim da escravidão. Mas, como isso não aconteceu, hoje não há tal igualdade de direitos que tanto pregam.

O racismo é algo sério e não podemos, nem devemos, nos calar diante de situações como essas. O Brasil vive numa escalada assombrosa da violência racista. O percentual de negros assassinados no país é de 132% maior que o de brancos, revela pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), no ano de 2013.

O silêncio contribui para a naturalização do preconceito. O caso do goleiro Aranha e a punição contra a torcida gremista (o time foi expulso da Copa do Brasil), serve para mostrar que o problema ainda está longe do palco de debates nacionais, conquanto, a justiça será feita e poderá ser caracterizado crime de injúria racial.

É indispensável que a lei continue sendo cumprinda, que as campanhas contra o racismo continuem sendo lançadas. Devemos lutar pela construção de uma sociedade justa e racial, socialmente igualitária.


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